Não sabemos com que comportamento sairemos do isolamento, mas a interação social é uma das esferas que irá mudar. O virtual satisfaz, mas ainda há sede de vida social real e as festas onlines de aniversário improvisadas mostram isso.
Dia 10 passado foi meu aniversário. Meu isolaniver ou quarentenário - nomes que inventei porque adoro fazer esse tipo de coisa.
Já previa essa situação um mês antes, mas quando chegou o dia, foi tanto quanto curioso: várias videochamadas (muitas das quais antes seriam apenas ligações) e encontros marcados de grupos amigos na mesma call, cada um em sua casa, obviamente - uma espécie de festa paliativa ou tentativa coletiva - e genuína - de fazer a aniversariante estar próxima de quem a ama. Digo com propriedade que funcionou. Faltaram abraços, beijos, olho no olho, danças bizarras e brinde, mas sobrou amor. Sério mesmo, me senti muito amada.
Isso fez uma importante ficha cair: estamos realmente a ponto de mudar a comunicação como a tínhamos antes. Se, por um lado, a cultura de videochamadas que o isolamento potencializou me aproximou de algumas pessoas, por outro, temos que ter o cuidado enorme de isso não substituir o verdadeiro contato do mundo real, mesmo depois de isso tudo passar. Porque, afinal, nessa fase o mundo real chega quase que exclusivamente pelas telas e streaming, de forma individualizada e pouco coletiva.
Se o Whatsapp mudou em pouquíssimo tempo a velocidade, objetividade, alcance, controle e milhões de outras coisas na forma como nos comunicamos hoje, a cultura de videochamadas vai trazer o quê? Mais proximidade de quem está longe, mais cultura home office, mais festas virtuais pra aproximar amigos que vivem nos quatro cantos do país, lives artísticas quase democráticas, atividades extracurriculares das escolas, discussões sobre telemedicina e vovós fazendo vídeos para os netos.
Eu acredito que vamos usar o virtual de modo mais indissociável, sim. Se antes já usufruíamos dele positivamente para facilitar a vida, agora várias instituições serão finalmente obrigadas a olharem pras telas como ferramenta (e lá vem bordão Íris Lab) de potencializar as relações humanas. Mas, por favor, não estamos convencidos de que o virtual seja mais eficaz que o real no quesito relações afetivas, portanto, não deixemos nossos filhos pensarem assim. Não passemos a Páscoa longe dos avós por preguiça de pegar trânsito, não adiemos happy hours em troca de encontros virtuais com a turma, não permitamos que os filhos façam encontros com os amigos por Skype ao invés da pracinha do bairro quando a vida ao ar livre voltar.
Continuarei com a sede de mundo, de viagem, de olhar o pôr-do-sol na praia e de observar os pedestres num ritmo sincronizado na Av. Paulista. Sinto falta de pôr o pé na areia, como uma boa caiçara que sou e sinto falta do contato físico. Ao que tudo indica, pelas festas virtuais paliativas, a humanidade também sente.
Percebemos, mais do que nunca, que o virtual veio potencializar ainda mais o nosso lado humano, mas espero que saíamos desse isolamento olhando para nossas relações reais com olhos mais afetuosos ainda.
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